Todos os anos desde 2009, a Porto Editora elege as 10 palavras mais relevantes do ano e convida os portugueses a votarem na sua preferida. 2018 não foi exceção. As votações decorreram exclusivamente online, no site da iniciativa até ao último dia do ano. A palavra vencedora foi anunciada ontem, 5 de janeiro.
As finalistas deste ano foram: “assédio”, “enfermeiro”, “especulação”, “extremismo”, “paiol”, “populismo”, “privacidade”, “professor”, “sexismo” e “toupeira”.
1. Assédio
O tema assédio surge devido ao movimento #MeToo, que colocou o tema do assédio sexual na agenda. O movimento teve particular relevo nos Estados Unidos, mas também se sentiu algum impacto em Portugal. Este movimento envolveu várias figuras públicas, existindo vários casos ainda em tribunal. O de Cristiano Ronaldo é um deles.
2. Enfermeiro
Os enfermeiros reivindicaram a criação da carreira de especialista, aumentos salariais, a generalização do horário de 35 horas semanais, uma progressão mais rápida na carreira e a contratação de mais profissionais. Ao longo de 2018, realizaram-se várias manifestações e greves nacionais de enfermeiros, prevendo-se que continuem em 2019.
3. Especulação
A especulação imobiliária atingiu níveis alarmantes em grandes cidades, como Lisboa e o Porto. No entanto, foi aquando da polémica “taxa Robles” que o termo foi repetido até à exaustão. Após defender a criação de um imposto para ganhos resultantes da “especulação imobiliária”, o Bloco de Esquerda foi confrontado com a notícia da prática dessa mesma especulação pelo seu ex-vereador Ricardo Robles. Apesar da campanha contra especuladores que tornam os preços das casas inacessíveis, o Bloco procurou desvalorizar esta incoerência e o descontentamento que a mesma causou.
4. Extremismo
Extremismo por serem cada vez mais frequentes as manifestações de intolerância e radicalismo, de forma generalizada, no espaço europeu. Os protestos de incitamento ao ódio preocupam a ONU, que defendeu que os líderes europeus se devem manifestar contra este problema social.
5. Paiol
Paiol: [MILITAR] edifício ou local onde se armazenam munições, explosivos e outro material de guerra. O termo ganhou relevância devido ao desaparecimento de armas do paiol de Tancos. Este acontecimento foi notícia em diferentes períodos do ano, devido à incerteza relativamente ao número exato de armas e munições que desapareceram, à detenção de vários arguidos e ao aparecimento de armas. O caso ainda está por esclarecer completamente.
6. Populismo
O discurso marcadamente populista não é uma característica portuguesa de 2018. Na realidade, o discurso populista impregnou o debate público um pouco por todo o mundo, sustentando o aparecimento de movimentos e líderes políticos que já conquistaram o poder em vários países.
7. Privacidade
Com a expansão da Internet e das novas tecnologias, é cada vez mais difícil garantir a privacidade dos cidadãos. 2018 foi um ano repleto de escândalos que envolveram o Facebook, despoletados pela utilização dos dados de milhões de utilizadores para influenciar campanhas políticas e direcionar o voto dos eleitores. 2018 foi também o ano em que entrou em vigor o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD), que prevê a proteção dos dados pessoais transmitidos através da Internet a todas as pessoas que se encontrem na União Europeia.
8. Professor
À semelhança do que aconteceu com a classe dos enfermeiros, a luta dos professores também recebeu grande cobertura noticiosa, sobretudo na segunda metade do ano. Os professores continuam, em 2019, a lutar pela contabilização da totalidade do tempo de serviço prestado durante o congelamento de carreiras.
9. Sexismo
Esta forma de discriminação de pessoas de um sexo sobre o outro (geralmente do masculino sobre o feminino) tem vindo a ser crescentemente denunciada, com vários casos mediáticos a alimentarem a discussão pública. Apesar da expressão #MeToo ter sido criada em 2006 pela ativista norte-americana Tarana Burke, foi em 2018 que o movimento ganhou força e se tornou um fenómeno mundial.
10. Toupeira
Toupeira é a 10.ª palavra finalista nesta iniciativa, sendo usada no sentido figurado. O termo está associado ao processo judicial que investiga crimes de corrupção no S. L. Benfica. A “Operação e-toupeira” foi posta em marcha na sequência da suspeita de que o clube de futebol nacional dispunha de uma rede de informadores no interior do sistema de Justiça.
Desde cedo se percebeu que entre as mais votadas estariam “professor” e “enfermeiro”, pelo relevo que as profissões têm a nível nacional e pelo impacto das greves levadas a cabo ao longo do ano. E assim foi. A palavra “enfermeiro” venceu com 37,8% dos votos.
Em segundo lugar, ficou o termo “professor”, com 33,4%. Em terceiro e quarto lugares ficaram, respetivamente, “toupeira” com 10,6% e “privacidade”, com 3,1% dos votos. A meio da classificação ficou “assédio” (2,9%).
Segundo o representante da Porto Editora, a promotora da iniciativa, a participação deste ano foi “verdadeiramente histórica”, com 226 mil votos validados. Há um ano registaram-se apenas 30 mil.
Em 2017, a palavra vencedora foi “incêndios”. Em 2016, em Portugal, o vocábulo mais votado foi “geringonça”. Com 2019 agora a começar, ainda é muito cedo para antecipar a próxima palavra do ano.
Angola e Moçambique
Em Angola e Moçambique, a Palavra do Ano é uma iniciativa da Plural Editores. Em Moçambique, a palavra eleita para 2018 é “resiliência“, devido às “várias dificuldades enfrentadas pelos moçambicanos no dia-a-dia” que, mesmo assim, “demonstram uma inegável capacidade de perseverança perante as adversidades”. Em Angola, a Palavra do Ano só será conhecida em finais de janeiro, mas a lista das dez palavras candidatas é composta pelos vocábulos: “autarquias”, “câmbio”, “cidadania”, “esperança”, “investimento”, “justiça”, “melhorar”, “mudança”, “repatriamento” e “resgate”.